sábado, 3 de março de 2007

A chegada à RDC

A chegada ao país pode-se dizer que foi no mínimo atribulada, mas antes de relatar essa pouco feliz experiência, vou relatar um pouco da viagem e a sensação aquando da saída do avião.

A viagem foi feita de avião de uma companhia aérea chamada SN Brussels, que para os mais distraídos era anteriormente conhecida como Sabena e que diga-se de passagem parece que é uma boa de uma porcaria, senão veja-se, comecei a ver um filme, e a companhia aérea não disponibiliza ecrãs individuais mas ecrãs de, sensivelmente, 6 em 6 filas pelo que sempre que alguém se levantava ou as hospedeiras passavam lá se iam 3 a 4 minutos de filme, sem exagero, mas isso ainda era o menos mal. Depois veio o meu típico azar, estava já eu sentado no meu lugarzinho todo contente a pensar que ia sozinho quando me aparece uma figura do género feminino com notáveis semelhanças à Moby Dick ou mesmo a um bom Godzilla, e literalmente invade o meu espaço aéreo, bem tive de a aguentar até Douala (Camarões), um nome que para os aficionados do futebol não é estranho, o que equivale a 6 horas e meia de viagem. O que me valeu foi que a criatura foi a dormir quase toda a viagem e só despertava quando as hospedeiras a alimentavam. Como se isso não bastasse atrás de mim ia um aspirante aos Ídolos, pois sempre que eu tirava os phones do ouvido lá estava ele a cantarolar. Depois de uma hora nos Camarões parados, lá foram mais 2 horas e meia de viagem até Kinshasa, para os mais distraídos foram cerca de 10h de viagem o que cansa, mas só um bocadito.

A saída do avião, já em Kinshasa, foi a experiência mais marcante desta odisseia, pois quando se vai no avião com o belo ar condicionado, se sai e se respira pela primeira vez o ar Africano é algo que nunca mais se esquece, parecia quase que não conseguia respirar. Podem vocês estar a pensar “Ah este gajo estava perto dos motores do avião daí este choque!”, mas não a sensação manteve-se durante algum tempo, e sempre que aqui se sai de um sitio com ar condicionado e se sai para a rua há este choque.

Parecia-me a mim que depois de tudo isto nada mais me podia acontecer, mas estava redondamente enganado. Depois de sairmos do avião fomos para a fila de controlo de passaportes e dos cartões de vacinas. Depois de 30 a 45 minutos de espera lá chegou a minha vez de mostrar o meu passaporte, o estafermo (não lhe posso dar um nome mais simpático como mais à frente vão notar) começa a olhar para o passaporte com cara de caso, ou de quem quer algo, e pergunta-me “O senhor é a primeira vez que vem cá?” pelo que eu caí no erro de lhe dizer “É sim!”, não contente volta-me a fazer uma questão pertinente “Fala francês?” pelo que eu lhe digo que dava uns toques na coisa. Começa então o calvário, o gajo vira-se para mim e diz “Você sabe que só pode entrar no pais com uma carta de convite?”, pelo que eu perplexo ainda tentei dizer-lhe que tinha o visto e que estava tudo em ordem, mas ele estava-se nas tintas e de imediato manda-me esperar ali ao lado para que ele pudesse verificar os passaportes de todos os outros passageiros. Fico ali um bocado perdido com a situação visto que os meus companheiros de viagem já estavam na sala ao lado à espera das bagagens. A minha sorte foi que chega o jovem que nos vinha buscar e me disse para ir ter com os restantes companheiros que ele tratava de tudo, tretas foi o que foi, pois isto era na verdade uma questão de valores como se vai ver mais à frente. Vou para a sala ao lado e passados alguns minutos aparece o tal jovem e diz-me “Vou agora procura as malas e já lá vou buscar o passaporte.”, os meus companheiros de viagem mais experientes nestas lides acalmaram-me logo e diziam-me que os tipos do aeroporto só queriam dinheiro e que as coisas se iam resolver. Fiquei um pouco mais calmo esperamos mais 30 a 45 minutos e lá aparecem as malas, pelo que o tipo que nos vinha esperar diz-me que ia agora sim resolver de uma vez por todas a situação e que não me tinha de preocupar. Passados uns minutinhos aparece o jovem e diz-me que os tipos do aeroporto queriam falar comigo. Começo a stressar um pouco, como de costume, e lá vou falar com eles. Eram 4 ao todo, o mesmo sacanita que me viu o passaporte em primeiro lugar e, no que me pareceu, num tom de gozo, pergunta-me outra vez se eu sabia falar francês pelo que digo mais uma vez que sim, sabe, diz-me ele, “Não me parece você esteja a entender-me.”, pelo que mais uma vez lhe digo que sei dar uns toques no francês. Respondida esta questão pergunta-me então o que vinha eu fazer ao país dele pelo que lhe digo que vinha em visita. Ao que me parece este não é um motivo valido para se viajar para este pais, pois ele achou estranho este facto e questiona-me sobre o que vinha cá visitar. Já um pouco cansado com isto tudo tento explicar-lhe que vinha ver o país dele e ele continuou a achar estranho que eu só viesse ver as paisagens e voltou a perguntar-me o mesmo pelo que tive então de lhe dizer que vinha cá ver umas empresas e aí já entendeu. Voltou então o problema da carta de convite, e então já completamente fo#$%o volto-lhe a dizer que estava tudo em ordem e que não percebia o motivo da retenção. Começam então a dizer que eu era muito agressivo e para ter calma, pelo que lhes digo que até sou um tipo calmo e que não se mete em confusões, riem-se todos e começam-me a dar pancadinhas nas costa e eu ri-me também (se não os podes derrotar junta-te a eles!!!). O tipo que nos veio esperar dá-lhe então cerca de 40000 francos congoleses, perto de 80 dólares, uma boa quantia visto que um salário médio aqui anda à volta dos 60 dólares, e então tudo se resolve, as gargalhadas continuam e o tipo que guarda o dinheiro lança-me um olhar como quem quer dizer é a vida pelo que lhe digo que não tinha visto nada, riem-se outra vez enquanto me dão o passaporte e me dizem és muito esperto tu. Mais uns bacalhaus e umas palmadinhas e lá me pôs a andar dali para fora. Saio do edifício e está a chover, aqui nesta altura é a época das chuvas, e vem um puto tentar cravar-me algum dinheiro pelo que sigo e nem lhe ligo. Pode parecer frio mas se lhe dou alguma “atenção” vêm logo mais 5 ou 6 iguais a ele e assim por diante.

3 comentários:

Anônimo disse...

Brother..ou melhor, Mon Frére!!! :)

Que te dizer... passei por aqui e gostei!! Ainda bem que tomaste esta iniciativa, portanto, há que continuar!! Vai pondo as tais imagens e faz updates regulares, para isto não ficar como um certo blog que conhecemos (sim, mea culpa tb)!!

Já ganhas-te um leitor... A próxima meta é o Pullitzer! Abraço

Joe

Anônimo disse...

bem ...finalmente decidiu-se a actuar. Também depois de tanto levar na cabeça, não me admira. Assim tá bem!

Anônimo disse...

Boa ideia miudo, mantem-nos informados! Vai dando noticias mais frequentemente;)

Abraço
Rani